Promessa de Onorina
Todos os dias, às seis da manhã, Onorina abria o pequeno baú que guardava sob a cama e, com infinito cuidado, começava a tirar as lembranças que ali entesourava, colocando-as, uma a uma, sobre uma pequena e desalinhada mesa. Havia ali um gato de pelúcia, sujo e completamente corroído pelo tempo, um par de sapatos de bebê, duas bolas de gude - uma azul e outra verde -, uma carteira de estudante de primeiro grau, um velho retrato e, finalmente, o maior de seus tesouros: uma carta, amarelada e tão antiga, que havia de desdobrá-la com o cuidado de um miniaturista chinês, para evitar que se transformasse irremediavelmente em poeira. Sentada frente à mesa na única cadeira que possuía, Onorina arrumava seus pertences com meticulosidade de relojoeiro: à esquerda, em leve ângulo, os sapatos; à direita, o gato de pelúcia, sentado; no meio, o retrato, e frente a ele, a carteira de estudante; as gudes, ela as colocava em frente aos sapatos, a azul em frente ao esquerdo e a verde em frente ao direito. Depois abria a carta com extraordinária cautela, desdobrando parcimoniosamente as três páginas de que era composta, enquanto um resplendor beatífico iluminava gradualmente seu rosto enrugado. E, então, ela lia em voz alta. Não sabia ler, mas isso pouco importava; de fato, o que para outras pessoas teria representado um obstáculo intransponível, para Onorina não era mais que um obséquio de Deus ou de alguma outra divindade que, por ventura, ter-se-ia interessado em seu destino, pois lhe permitia receber, a cada dia, novas notícias, fazendo deste rito matinal um momento de ditosa expectativa e quotidianamente renovada alegria.
"Querida mamãe", começava todas as cartas, "espero que você esteja bem de saúde e tão bonita como você sempre foi". "Se você soubesse, meu filho", pensava, também em voz alta, e continuava sua leitura. Seguia então o relato cativante de toda uma série de aventuras e viagens a terras remotas e desconhecidas,