Projeto África
Imagino que os que me conhecem há mais tempo estranhem que uma versão politicamente correta de um clássico infantil chegue aqui ao Cachinhos. Quando a onda do "politicamente correto" chegou até mim, rapidamente me posicionei contra ela. Porque... ora, porque era chata demais. Não poder cantar as cantigas de roda do jeito que eu, e várias gerações antes de mim, cantaram, é chato demais! Não poder usar uma expressão, e ainda substituí-la por outra que “assassina o português", mais que chato é constrangedor!
Pior é quando o "politicamente correto" chega à literatura infantil. Mexer nas histórias clássicas, transformar lobo mau em lobo bom, acabar conflitos e tornar princesas e madrastas amigas, dentre outras coisas, torna tudo descaracterizado e... chato. Além disso, a infância precisa ter acesso a conflitos, desafios e seres temíveis de uma posição segura para compreender melhor sua realidade e o mundo em que vive, e assim amadurecer. Um final feliz depois de todas as intempéries da história é libertador não apenas para as crianças.
Mas enquanto criticava e acusava de chata tanta patrulha, a danada da minha cabeça insistia em me fazer pensar (que chato!). Fui refletindo sobre a importância de se parar para reavaliar o "modus operandi" para que o mundo e nossas sociedades possam evoluir. Bom, eu só não queria ser A chata que faz isso, mas comecei a admirar bastante quem tem peito para ser tão chato assim - recentemente encontrei nesse texto uma ilustração do que minha cabeça fervilhava.
E foi então que cheguei ao maravilhoso e perturbador texto de Ana Maria Gonçalves sobre a polêmica em torno de Monteiro Lobato e do seu livro Caçadas de Pedrinho. Na época eu estava investigando para tentar entender melhor o caso: em resumo, estava sendo questionada a adequação à legislação antirracista deste livro, escolhido para ser distribuído nas escolas públicas de Ensino