Professora, existem santos negros?
Os negros foram arrancados à força de suas terras e transportados a América portuguesa na condição de escravos. Nesse processo eles foram inseridos na sociedade brasileira, perdendo qualquer relação de parentesco e liberdade, sendo sua cultura e religião totalmente fragmentada. As mudanças relacionadas à cultura e religião africana foram reconstruídas de modo a estabelecer conexões entre a identidade negra de origem e a sociedade brasileira ao qual deveriam se adaptar. A população negra foi obrigada a incorporar os padrões do catolicismo. E somente através da incorporação do catolicismo que os negros poderiam se mover no mundo real do dia-a-dia, na sociedade onde os brancos eram dominadores. Então, tornava-se imperativo ser, sentir e parecer brasileiro, e para isso teriam que ser católicos. O panorama religioso do Brasil consistia em: Católicos praticantes autênticos que aceitavam e praticavam os dogmas e ensinamentos impostos pela hierarquia eclesiástica; os Católicos praticantes superficiais que faziam uma encenação social, cumprindo apenas os rituais e deveres religiosos obrigatórios; os Católicos displicentes que evitam os sacramentos e demais cerimônias sacras, por simples indiferença e descaso espiritual e os Cristãos novos, animistas, libertinos e ateus que se camuflavam como católicos por conveniência, evitando repressões inquisitoriais. Os negros construíram estratégias de resistência de sobrevivência e de manifestação de sua religiosidade. O fato de praticarem suas crenças não os impedia de serem também católicos fervorosos e convictos dos dogmas da fé cristã. Não se tratava apenas de obrigação, conveniência ou “camuflagem”. Para o negro, não havia oposição, incoerência ou separação entre a sua africanidade e o catolicismo, pois conseguiram conciliar coisas contraditórias e inconciliáveis. A maneira que o negro destacava sua devoção incomodava, preocupava e