Preconceito contra nordestinos
Haveria um toque de ridículo na forma como se noticia o crescimento do preconceito contra os nordestinos. É como se, vendo o preocupante ressurgimento, na Europa e no Oriente Médio, do nacionalismo xenófobo, do fundamentalismo religioso, das intolerâncias frente às diferenças culturais, rapidamente se providenciasse similares nacionais, tratando-se o problema como se fosse mais um modismo a ser importado, dentro da costumeira atitude de copiar subserviente e indiscriminadamente modelos do Primeiro Mundo, numa postura típica de colonizado, sintoma de subdesenvolvimento e alienação, decorrente da compreensível nostalgia causada pela nossa posição subalterna, sempre a reboque dos grandes acontecimentos internacionais, nós aqui deste longínquo e pitoresco arraial, o Brasil.
Isso não quer dizer que não haja preconceito contra os nordestinos. Ele existe, é um fato absolutamente indiscutível, não é recente e tem-se intensificado nos últimos tempos, provavelmente em função da crise econômica. O fato de somente agora ser noticiado é que mostra nossa alienação, nossa falta de identidade, pois é preciso que algo semelhante ocorra no Primeiro Mundo, para ser então aqui reconhecido.
Antes de tudo, não podemos negar que a grande maioria dos nordestinos que migram para São Paulo e demais cidades e regiões do Sul do País é constituída por pessoas que viviam na mais absoluta miséria em seus lugares de origem, e que migram não por opção voluntária, mas para fugir de uma realidade insuportável. Literalmente fogem da morte. São pobres pessoas ignorantes, analfabetas, sem conhecimentos básicos de qualquer espécie, com graves e crônicas carências alimentares que se refletem diretamente em sua compleição física, desaparelhadas para enfrentar uma metrópole.
Claro que inevitavelmente vão ocupar os trabalhos mais braçais e humildes, engrossar os cortiços e favelas, sofrer um longo e terrível período de aclimatação e adaptação cultural e social