pontuação
É claro que existem normas fixas de gramática relativas à pontuação. A essa, entretanto, deve-se acrescentar a criatividade ou a intuição do redator. Observe-se, por exemplo, a estrofe seguinte, manifestação de um alegre poeta apaixonado por uma moça chamada Soledade (do Livro “Todo o mundo tem dúvida, inclusive você”, de Édison de Oliveira, DCLuzzatto Editores, 1994, pág. 187):
Se obedecer à razão,
Digo que amo Soledade.
Não a Rosa, cuja bondade
Ser humano não teria.
Não aspiro à mão de Íria,
Que não é linda beldade.
Os versos não são nenhum primor, mas Soledade gostou muito. Apaixonou-se também pelo poeta e foram felizes por... pouco tempo, porque ele, muito volúvel, cedo a esqueceu e começou a namorar uma tal de Rosa. Como os versinhos já haviam dado sorte, o autor modificou a pontuação e enviou-os a Rosa:
Se obedecer à razão,
Digo que amo Soledade?
Não. A Rosa, cuja bondade
Ser humano não teria.
Não aspiro à mão de Íria,
Que não é linda beldade.
E a história repetiu. Depois de algum tempo, o poeta também esqueceu Rosa e passou a interessar-se por uma feinha original chamada Íria. Como não podia deixar de ser, enviou-lhe a mesma estrofe com outra pontuação:
Se obedecer à razão,
Digo que amo Soledade?
Não. A Rosa, cuja bondade
Ser humano não teria?
Não. Aspiro à mão de Íria,
Que não é linda beldade.
E, por fim, desiludido de todas elas, modificou, pela última vez, a pontuação da estrofe, fixando nela todo o seu desencanto:
Se obedecer à razão,
Digo que amo Soledade?
Não! A Rosa, cuja bondade
Ser humano não teria?
Não! Aspiro à mão de Íria?
Quê!? Não é linda beldade...