Poesias
Gegório de Matos
A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos,
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.
A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas cobertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.
A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, pra chamar-me.
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.
Inconstância das coisas do mundo!
Gegório de Matos
Nasce o Sol e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tritezas e alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falta a firmesa,
Na formosura não se dê constancia,
E na alegria sinta-se a triteza,
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza.
A firmeza somente na incostância.
A MORTE DO PADRE VIEIRA
Manoel Botelho de Oliveira
Fostes, Vieira, engenho tão subido,
Tão singular, e tão avantajado,
Que nunca sereis mais de outro imitado
Bem que sejais de todos aplaudido.
Nas sacras Escrituras embebido,
Qual Agostinho, fostes celebrado;
Ele de África assombro venerado,
Vós da Europa portento esclarecido.
Morrestes; porém não; que ao mundo atroa
Vossa pena, que aplausos multiplica,
Com que de eterna vida vos coroa;
E quando imortalmente se publica,
Em cada rasgo seu a fama voa,
Em cada seu uma alma fica.
Classicismo
Amor é fogo que arde sem se ver
Luís de Camões
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que