Poesias
Portugal
13 Jun 1888 // 30 Nov 1935Poeta Liberdade
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D.Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
Mario de andrade
O Domador
Alturas da Avenida. Bonde 3.
Asfaltos. Vastos, altos repuxos de poeira sob o arlequinal do céu oiro-rosa-verde...
As sujidades implexas do urbanismo.
Filés de manuelino. Calvícies de Pensilvânia.
Gritos de goticismo.
Na frente o tram da irrigação, onde um Sol bruxo se dispersa num triunfo persa de esmeraldas, topázios e rubis...
Lânguidos boticellis a ler Henry Bordeaux nas clausuras sem dragões dos torreões...
Mário, paga os duzentos réis.
São cinco no banco: um branco, um noite, um oiro, um cinzento de tísica e Mário...
Solicitudes! Solicitudes!
Mas... olhai, oh meus olhos saudosos dos ontens esse espetáculo encantado da Avenida!
Revivei, oh gaúchos paulistas ancestremente! e oh cavalos de cólera sangüínea!
Laranja da China, laranja da China, laranja da China!
Abacate, cambucá e tangerina!
Guarda-te! Aos aplausos do esfuziante clown, heróico sucessor da raça heril dos bandeirantes, loiramente domando um automóvel!
Manuel bandeira
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com