Poesia

Rabiscos
Rabisquei como ontem..., o mais do mesmo, a inquietude plena que me leva por lugares que jamais; a palavra já rabiscada, o sentido, aquele de sempre já sentido, como navio que dia partiu e mulher amada no cais, rica de desejo sonha seu retorno, rabiscos de menino de outrora, que um dia sonhou com sonho sonhado..., que um dia sonhou com sorriso de navio que retorna, que um dia sonhou com o cais, com o mar, com amor de mulher que de esquecer não se lembra jamais. Jamais!
Rabisquei como hoje, rabiscos que enfeitam minha solidão, do mundo dos homens, dos adultos, sérios, dos chatos de galocha, prefiro a risada solta, menino, a vida de cabeça para baixo, o arrepio que sobe dedão acima. Vi meu Pedro, ele estava a meu lado, pediu lápis e papel, queria sonhar sonho de menino, rabiscos de asas que dão sonhos a vida, imaginei árvore, sol e chuva, imaginei terra e eles, imaginei o amor que nos permeia, imaginei Bruno que outrora pedia lápis e papel, como Pedro de agora, imaginei o futuro, o deles, e os nossos. Nós!
Rabisquei como amanhã, chato, bobo, imaginando futuro sem vivê-lo, triste menino preso, adulto, grande de tamanho, pequeno em vida, a tanto por fazer, a tanto por amar, a tanto por viver, há tanto e não nos damos conta, mundo pequeno, insatisfações tolas, fúteis, de um ontem que já se fora, de um amanhã que porvirá; lembro-me de água de rio caudaloso, que nos leva, nos movimenta para o próximo passo, alimento de todo dia. Esperança!
Rabisquei veneno, rabisquei antídoto, desejei a morte, a propósito, não o fim, morro todos os dias e renasço segundo seguinte, renasço a cada folha, fruto, a cada raiz que determinada cresce, a cada pedra que assiste flor entre si florescer, menino que voa, que avoa, muro que pula; comigo sorriso, memória do que vale a pena, adulto já não mais, menino matreiro de árvore em galho, de quintal em bola, de gude em pião, de arte em arte, de mim em mim, de mim em nós, de nós no todo. Vida!
Do rabisco último, do momento de