Poesia e Psicanálise
Desde a Interpretação dos Sonhos por Sigmund Freud que o conceito de interpretação em psicanálise assumiu um protagonismo tal que dura até aos dias de hoje. Freud contribuiu decisivamente para a percepção científica do sofrimento humano através da teoria dos instintos e das fantasias inconscientes, interessando-se e explorando as experiências afectivo – emocionais, tais como sonhos, afectos, paixões, relacionamentos afectivos. A psicanálise encontra uma relação entre a escrita e manifestações do inconsciente. No caso particular da poesia, através de metáforas, de rimas, da beleza estética da escrita, o poeta permite-se a liberdade de revelar os sentimentos e pensamentos que conscientemente reprime, que o angustiam. Será que escrever um poema, tal como sonhar, permite ao indivíduo dar voz ao seu inconsciente?
“Escrevo sem pensar, tudo o que o Meu inconsciente grita. Penso depois: Não só para corrigir, mas para Justificar o que escrevi.”
Mário de Andrade
A sexualidade, tema tabu desde sempre, tem muitas vezes na poesia a liberdade de ser vivida e pensada. O poeta consegue descarregar a sua pulsão sexual, permitindo-se alcançar a satisfação através do uso do simbolismo e da ambiguidade das metáforas e das metonímias, as quais, de acordo com Freud, traduzem a condensação e o deslocamento no mundo psíquico. A obra poética de Florbela Espanca é um exemplo desse mesmo simbolismo e ambiguidade. Aliada a uma sensualidade e a um erotismo feminino sempre presentes e que chocaram a moral sexual da sua época, Florbela Espanca fala no relacionamento sexual também como algo de impuro e por vezes carregado de brutalidade em que as mulheres tão depressa são impuras como logo a seguir são puras; tão depressa são megeras como depois já são excelentes.
“Meu Amor! Meu Amante! Meu Amigo!
Colhe a hora que passa, hora divina,
Bebe-a dentro de mim, bebe-a comigo!
Sinto-me alegre e forte! Sou menina!”
Florbela Espanca
“No divino impudor da