poema
Às vezes a vida gosta de pregar peças nas pessoas que sofrem de algum tipo de problema social. No meu caso, tenho problemas em manter conversas com amigos de amigos por mais de 30 segundos. Me distraio, viro o rosto, reparo na formiga passando perto do meu pé, mas não mantenho o contato visual e comunicativo.
Já estava esperando a 30 minutos o Roberto e como sempre, atrasado.
Marcamos de nos encontrar para almoçarmos com uma amiga dele de longa data que segundo ele estava louca para me conhecer. Seu nome era Ellen.
O Roberto falava dela como quem falava sobre biologia, sua matéria favorita. “Ellen isso”, “Ellen aquilo”, “Ellen falou tal coisa”. Era suas frases.
Não estava tão ansioso a conhecê-la por motivos de ter que socializar, manter o papo seguro e divertido como deveria ser. Mas minhas cordas vocais não estavam afim de funcionar naquele dia.
Não demorou muito tempo ─ depois dos 30 minutos de atraso ─ para que eu avistasse uma pessoa de baixa estatura, branca com seus cabelos morenos ondulados soltos sobre seus ombros. Uma camiseta preta vestia-a bem combinando com sua mochila florida pendurada em apenas um dos ombros. Ela estava vindo em minha direção e eu ansiava por fugir dali. Era a Ellen.
Ela continuava vindo, sorrindo, e o Roberto não havia chegado.
Quando ela chegou na minha frente o ar me faltou. Levantar e ir embora me parecia a coisa certa a se fazer naquele momento.
Peguei o celular e liguei para o Roberto quando ela me cumprimentou e eu apenas sorri como quem não quisesse estar ali naquele momento constrangedor. Mas eu estava naquele momento constrangedor.
O Roberto não atendeu e eu não tive outra opção, cumprimentei e a convidei a sentar comigo e esperar o Roberto, e ai veio o contato físico. Ela me deu dois beijos na bochecha e sentou. Perguntei-a sobre como foi a ida até o local de encontro mas logo me arrependi. Por sorte ela assentiu meu incomodo e tentou ser breve e manter o silêncio. Me senti mais livre.
Vez ou outra