Poema
A minha vida é um barco abandonado
Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que não ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado ?
Ah! falta quem o lance ao mar, e alado
Torne seu vulto em velas; peregrino
Frescor de afastamento, no divino
Amplexo da manhã, puro e salgado.
Morto corpo da ação sem vontade Que o viva, vulto estéril de viver, Boiando à tona inútil da saudade.
Os limos esverdeiam tua quilha, O vento embala-te sem te mover,
E é para além do mar a ansiada Ilha.
“O eu – lírico fala de sua vida, fazendo uma comparação com um barco abandonado num porto. Sente que ela está estagnada e não cumpriu seu destino, e não cumpriu porque lhe faltou vontade de o fazer, e agora sua vida está como um barco morto no porto sem chegar à ilha da felicidade.”
Cai chuva do céu cinzento
Fernando Pessoa
Cai chuva do céu cinzento
Que não tem razão de ser.
Até o meu pensamento
Tem chuva nele a escorrer.
Tenho uma grande tristeza
Acrescentada à que sinto.
Quero dizer-ma mas pesa
O quanto comigo minto.
Porque verdadeiramente
Não sei se estou triste ou não.
E a chuva cai levemente
(Porque Verlaine consente)
Dentro do meu coração.
“ O eu - lírico faz uma comparação de seus sentimentos com a chuva que cai no céu, quando cita que a chuva cai no céu cinzento ele quer expressar seus sentimentos de tristeza , depois ele entra em contradição em seus sentimentos sem saber se está triste ou não, e