Pierre bourdieu
Porque escrever sobre Pierre Bourdieu? Não fosse sua significativa produção que revela sua dedicação às questões da vida social e humana, que por si só atestaria a importância de se registrar sua vida e sua obra, bastaria respeitar o depoimento dos mais significativos intelectuais do mundo que, compartilhando ou debatendo com ele, reconheceram sua obra como uma das mais importantes contribuições teóricas do pensamento humano, que possibilita interpretar o mundo a partir das contradições que emergem da realidade social. Bourdieu construiu um sólido discurso sociológico e da educação analisando com rigor e escrúpulo empírico a função das instituições educacionais contribuindo para esclarecer que as diferenças de dons e atitudes consideradas pela educação até então são produzidas pelas diferenças sociais. Forneceu um importante quadro macrossociológico de análise das relações entre o sistema de ensino e a estrutura social. Seu constructo teórico inovou e trouxe importantes debates às Ciências Sociais, particularmente à Sociologia da Educação e à Educação, permitindo compreensões até então não havidas. Bourdieu teve o mérito de formular, a partir dos anos 60, uma resposta original, abrangente e bem fundamentada, teórica e empiricamente, para o problema das desigualdades escolares. Esta resposta tornou-se um marco na história, não apenas da Sociologia da Educação, mas do pensamento e da prática educacional em todo o mundo.
A preponderância da herança
Bourdieu obteve o diploma de Filosofia na Escola Normal Superior, considerada instituição de maior prestígio na área dos estudos de letras e filosofia e de onde saíram Jean Paul Sartre, Simone Beauvoir, A. Camus, R. Aron e outros intelectuais de após-guerra. Apesar de sair de uma escola considerada no topo máximo da consagração, Bourdieu não se deixa encantar como tantos outros da sua geração ou da anterior. Devendo cumprir o serviço militar em plena guerra da Argélia, ele exerce neste país o