Pierre Bourdieu Cultura E Pol tica
Pierre Bourdieu
Gostaria muito de escapar do ritual da conferência e considero o que vou dizer como uma espécie de oferta, esperando que em função dessa minha oferta, seja definida uma demanda e possamos fazer algum, negócio.
Uma das dificuldades da comunicação entre o sociólogo e seus leitores devese ao fato de que estes últimos são colocados na presença de um produto que, com bastante freqüência, mal sabem como foi produzido. Ora, o conhecimento das condições da produção do produto faz parte rigorosamente das condições de uma comunicação racional, do resultado da ciência social. Os leitores encontram um produto acabado, que lhes é dado numa ordem que não foi a da descoberta (naquilo em que ela tende a se aproximar de uma ordem dedutiva, o que freqüentemente faz com que o sociólogo fique sob a suspeita de ter armado suas teorias para em seguida encontrar algumas validações empíricas para ilustrá-las). O produto acabado, a opus operatum, esconde o modus operandi. O que circula entre a ciência e os não-especialistas, ou mesmo entre uma ciência e os especialistas das outras ciências (penso por exemplo na lingüística, no momento em que ela dominava as ciências sociais), o que os grandes órgãos de celebração veiculam, são no máximo os resultados, jamais as operações. Jamais se entra na cozinha da ciência. Evidentemente não posso apresentar aqui o filme real da pesquisa que me levou ao que vou lhes contar. Tentarei apresentar-lhes um filme com a velocidade acelerada e um pouco cortado, mas com a intenção de dar uma idéia da maneira como o sociólogo trabalha.
Após Maio de 68, com a intenção de estudar os conflitos que têm como lugar e como objeto o sistema de ensino, comecei a analisar todas as pesquisas feitas pelos institutos de pesquisa de opinião a respeito do sistema de ensino e, ao mesmo tempo, também os resultados de uma pesquisa sobre as transformações desejadas no sistema escolar, feita através da imprensa. A informação mais interessante