percepção e a psicanálise
Entre inconsciente e percepção é preciso reconhecer que a história da psicanálise fez da percepção o pólo a ser esquecido. Mas os movimentos do pensamento psicanalítico contemporâneo fizeram com que fosse necessário aceitar o trabalho exigido pelo retorno do recalcado.
Conceito está presente desde Projeto para uma psicologia científica, a famosa Neurótica. As primeiras concepções de Freud sobre a percepção, nos anos 1891-1899, refletem a influência das teorias empiristas, marca principal de seu trabalho como neurologista. Elas revelam tanto as características sensorialistas como associacionistas de suas primeiras conceituações da percepção.
Toda a questão que se coloca, e para mim ela é fundamental para se pensar a teoria freudiana, é se a percepção pode ou não fornecer uma representação verdadeira da realidade. E, também, se esta é a função principal da percepção no aparelho psíquico. A percepção, vinculada às funções do ego é o que sustenta, para Freud, a possibilidade do princípio e da prova de realidade. Deste ponto de vista ela nos possibilitaria a distinção entre realidade e fantasia, entre mundo externo e mundo interno. A percepção é, assim, caracterizada como a possibilidade de reconhecimento (no sentido de apreensão pelos órgãos dos sentidos) de algum estímulo que atinge o organismo, sendo que a "interpretação" dessa percepção é feita pelo aparelho psíquico:
A maior parte do desprazer que experimentamos é um desprazer perceptivo Esse desprazer pode ser a percepção de uma pressão por parte das pulsões insatisfeitas, ou ser a percepção externa do que é aflitivo em si mesmo ou que excita expectativas desprazerosas no aparelho psíquico [ou anímico], portanto, o que é por ele reconhecido como um perigo.
Um outro ponto que merece destaque no texto, A Negação, é o fato de Freud afirmar a qualidade ativa das percepções, possivelmente mobilizadas a partir de representações. Esta inversão é de grande importância.