Peixes, torpedo, sermão santo antonio aos peixes
“Quem dera aos pescadores do nosso elemento, ou quem lhe puser essa calidade tremente, em tudo o que pescam na terra! Muito pescam; mas não me espanto do muito: o que me espanta é, que pesquem tanto, e que tremam tão pouco.”
Primeiramente, este extracto foi retirado do Capítulo III, em que o pregador se propõe a enaltecer as virtudes dos peixes em particular (“(…) Pode haver maior, mais breve e mais admirável efeito?”), que faz menção ao Torpedo, dirigindo-se aos peixes mas tendo sempre como destinatário final os homens, mais particularmente quem tem de os converter (fazer tremer) – os pregadores.
Em relação à análise do texto, pode constatar-se que, sendo o próprio orador um pregador (Padre António Vieira), ao afirmar que “os pescadores *são+ do nosso elemento”, está, neste contexto, a comparar os pescadores com os pregadores.
Seguidamente, no contexto da analogia “calidade tremente”, o pregador pretende referir que tem inveja desta característica do Torpedo, pois subentende-se que o “tremer” é a capacidade de assustar e chocar em “quem toca”, isto é de influenciar pela parte emocional o auditório, por isso diz ter inveja desta qualidade. Isto porque, os pregadores “muito pescam”, isto é muito pregam, no entanto os homens “tremem tão pouco”, ou seja, são poucos os homens que se deixam tocar pelo sermão que ouvem.
“Está o pescador com a cana na mão, o anzol no fundo e a bóia sobre a água, e em lhe picando na isca o Torpedo, começa a lhe tremer o braço. Pode haver maior, mais breve, e mais admirável efeito? De maneira que num momento passa a virtude do peixezinho, da boca ao anzol, do anzol à linha, da linha à cana e da cana ao braço do pescador.”
Com este excerto, o narrador pretende demonstrar as várias “fases” da conversão do homem, ou seja, “da boca ao anzol, do anzol à linha, da linha à cana e da cana ao braço do pescador.”. Sendo assim, pretende