Pegando fila... contando um pouco da cotidianidade do trabalhador desempregado na cidade de são paulo.
RESUMO
As filas de desemprego são hoje um fragmento comum à cidade de São Paulo, servindo enquanto indicadores de uma realidade contraditória entre a estrutura jurídica e a cultura política do Brasil, de sua perspectiva histórica relacionada ao mercado de trabalho e à forma de operacionalização das políticas públicas voltadas ao emprego, trabalho e geração de renda que ainda se mostram insipientes frente à alta demanda de trabalhadores desempregados de nosso país. A partir desse movimento, essa pesquisa corresponde a uma opção pelo cotidiano dos trabalhadores desempregados da cidade de São Paulo, trabalhando-se, em especial, as filas de desemprego da Força Sindical situadas nos bairros da Liberdade e no Largo Treze de Maio no bairro de Santo Amaro.
Nessa perspectiva propomos amplificar as várias vozes presentes nestes espaços, buscando entender a partir dos sentidos ali presentes se o "estar em fila" mobiliza, é tático ou desagrega. Para tanto, nos embasamos no referencial construcionista, enfocando a linguagem em ação, na concepção de apropriação de espaços apresentada por Milton Santos, na percepção sobre as relações em cidade proposta por Zygmunt Bauman e na discussão trazida por Michel de Certeau sobre o cotidiano. A partir do entrecruzamento de materialidades e sociabilidades surgidas nas conversas entre a pesquisadora e atores dos espaços das filas, estas são apresentadas e discutidas nesta narrativa partindo-se do pressuposto de que esse modo de organizar a espera nas cidades constitui um espaço comum de interações que permitem uma riqueza de construções sociais, aproximando estranhos que uma cotidianidade densa e fluída transformando os espaços. As pessoas interagem dialogando, questionando, brincando, rindo,