“Para que Filosofia” A filosofia é ciência, conhecimento das coisas pelas causas, pelas razões: a saber, como ciência, nos diz que a coisa conhecida não só é assim, como nos aparece, mas tem de ser necessariamente assim. E distingue-se do saber vulgar, da opinião, que nos diz que as coisas conhecidas estão de uma determinada maneira, mas não dá a razão pela qual estão necessariamente assim. Daí o saber vulgar, a opinião, não ser estável e segura, mesmo quando verdadeira. A filosofia, portanto, ainda que coincida, materialmente, com o assim chamado bom senso, senso comum – que pertence à opinião – dele formal e essencialmente se diferencia pela sua certeza absoluta. Como é preconceito comum que a filosofia seja um saber abstrato, afastado da realidade e da vida, é também opinião vulgar que a metafísica seja fruto de uma espécie de intuição mística, uma construção pelas idéias inatas, uma dedução lógica dessas, um roupão transcendente que se impõe à realidade. Na verdade, porém, como é insubsistente o primeiro preconceito, é falsa também a segunda opinião, pois a metafísica constrói-se começando pela experiência, do mesmo modo que a filosofia é a mais profunda penetração da experiência. Ela – em seu fundamento, em seu ponto de partida –, é indutiva como as demais ciências e como todo saber humano em geral, ainda mesmo de modo diverso e com diferente ponto de chegada. E, por certo, é dedutiva em seu desenvolvimento; mas são também dedutivas todas as ciências em sua sistematização. A filosofia é, portanto, uma construção – a mais alta e sólida construção - da razão humana, que parte do terreno firme da experiência para justificá-la. Em abstrato e substancialmente, poderia a filosofia ser realizada pela (sã e eficiente) razão humana do indivíduo, posta em frente ao enigma do mundo; entretanto, em concreto e plenamente, o sistema da filosofia é realizado aos poucos, através do gradual progresso da humanidade, mediante a história da filosofia – como