Padre Avelino
Sou professor e, em conversa com os meus colegas de profissão, nomeadamente da disciplina de Português, há vários anos que ouvia falar de um tal padre, na terra de Miguel Torga, que, sendo vizinho do poeta, recebia as visitas de estudo que esses professores faziam com os seus alunos. Aliás, nessas conversas, percebia que uma visita à terra natal do autor de “Bichos” não estava completa, sem que essa figura fizesse a sua aparição junto do grupo, para os contemplar com as suas histórias e com a declamação, de coração, de alguns dos mais emblemáticos poemas torguianos. Em 1999 fui colocado na Escola Secundária Dr. João de Araújo Correia, na Régua, e, não estranhei ouvir as mesmas descrições que me tinha acostumando ouvir nas outras escolas por que tinha passado do tal senhor padre, idoso, contemporâneo de Miguel Torga, e todas as peripécias que ainda era capaz de representar e com as quais deliciava quem visitava São Martinho de Anta. O que não contava era encontrar quem o conhecesse fora dessas atividades e de uma forma mais íntima.
Aconteceu um dia ser convidado pela, na altura colega de escola, Assunção Anes Morais para a acompanhar e a outra colega, nessa escola, numa viagem a S. Martinho de Anta. Como estava há pouco tempo por Trás-os-Montes, o meu conhecimento da região limitava-se à Régua, a Vila Real e, ocasionalmente e de passagem na estrada para o Porto, a Mesão Frio. Assim, prontamente aceitei o convite e lá fomos até S. Martinho.
A entrada em S. Martinho fez-se pela estrada que passa pela escola primária e que desemboca do largo do Eirô. Encostado o carro sobre a direita, em frente à casa que logo fiquei a saber que tinha sido a de Miguel Torga, a Assunção foi imediatamente tentar localizar o senhor
Padre Avelino. A primeira imagem que tenho desse senhor é a de um simpático e sorridente idoso, que seguro pelo braço da Assunção, se dirigia a nós já com o brilho nos olhos, próprio de quem fica ávido por conhecer novas caras e por mostrar,