Ossip mandelstam: traduzindo o silêncio em poesia

1461 palavras 6 páginas
Traduzindo o Silêncio em Poesia

Esse trabalho foi apresentado em um seminário organizado pelos estudantes de medicina da Universidade de Hacetepe, uma das maiores e mais importantes universidades da Turquia. Para minha surpresa e alegria, eles demonstraram grande interesse e conhecimento no campo da tradução de poesia.

Primeiramente, tentarei explicar o que entendo quando falo em traduzir o silêncio em poesia. A primeira questão que me vem em mente é “de onde surge a poesia?” E essa é uma questão que já se faz há mais de dois mil anos no Ocidente, e, se tomarmos o exemplo de algumas poéticas orientais, há mais de três mil anos.

Michele Horovits
Núcleo de Fotografia UCB Captura

Naturalmente, não pretendo respondê-la, mas creio poder afirmar que a poesia, enquanto estado em que as palavras atingem o máximo de sua elaboração, tem sua origem em um espaço onde as palavras não existem. A poesia, quer se origine da imaginação, do pensamento ou da emoção, vem de um espaço onde todos somos poetas – o silêncio. E talvez seja por isso que o pensador e poeta Maurice Blanchot afirme que só alguém que tenha aprendido a estar só possa se tornar poeta, o que me leva a concluir que o poeta é aquele que possui a capacidade ou os meios de escutar esse silêncio. O poeta é um tradutor do silêncio.

Heidegger, por um outro lado, enfoca o elo existente entre a arte e o fenômeno que ela representa – a arte faz com que a própria terra fale. Acredito que esse processo metaforizado por Heidegger apenas se comprove mediante a presença da obra de arte, nesse caso, do texto poético. No poema, escutamos a fala da terra.

A grande poeta norte-americana Elizabeth Bishop, que, aliás, viveu no Brasil por muitos anos, consegue fazer com que seu leitor “tome um banho”, e um banho muito especial , no poema “O xampu”. Ela explora a musicalidade da língua inglesa unindo-a a uma seqüência policromática de metáforas que transferem seu leitor para o momento úmido de um banho

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