Os tates Corongos
O africano Manoel liderou uma insurreição quilombola no Vale do Paraíba em 1838. Escravo do capitão-mor Manoel Francisco Xavier, acabou capturado, julgado, condenado à morte e executado dois anos depois. Não se sabe ao certo quando ele desembarcou no Rio de Janeiro; talvez tenha sido no final da década de 1820. Batizado numa das freguesias urbanas da Corte imperial, foi rapidamente levado para a região cafeeira fluminense. Na nova terra, Manoel – um Bacongo, da África centro-ocidental – reuniu-se com africanos de várias origens e também a cativos crioulos (nascidos no Brasil), alguns indígenas e seus filhos miscigenados. Instalado na Fazenda Maravilha, de Manoel Francisco Xavier, passou a exercer o ofício de ferreiro, juntando os conhecimentos que trazia da África com o que aprendera no Brasil. Em pouco tempo ganhou prestígio entre os escravos da região. Trabalhando com o ferro, podia consertar e fabricar lanças, facas e flechas sem levantar maiores suspeitas de senhores e autoridades locais.
Mas sua liderança também podia estar relacionada a elementos culturais. Alguns cativos eram reconhecidos como líderes porque detinham poderes espirituais fundamentais na formação das comunidades de senzalas e na organização de levantes. Manoel Congo era chamado de “pai” por outros africanos, inclusive pelos mais velhos, que tinham chegado a Vassouras décadas antes dele. Essa influência talvez significasse o reconhecimento de alguma função religiosa. Nas línguas Kimbundu e Umbundu da África Central, a palavra tata/tate significava pai/meu pai. Em Vassouras, no ano de 1847 – portanto, quase uma década depois da insurreição de Manuel Congo –, foi descoberto um plano de revolta escrava, e seus líderes eram chamados de Tates Corongos. E ainda contavam com uma “sociedade secreta” dirigida por um “patrono negro”, o Kebanda, que tinha poderes espirituais. Quase sempre acusados de feiticeiros, esses líderes realizavam rituais para