Os maias
Ega - Está completamente de acordo: aceitando o princípio de que a vida resulta sempre em desilusão, faz sentido não ter quaisquer expetativas, evitando assim as contrariedades e a frustração.
Se a felicidade estava em nada desejar, o facto de se esforçarem, correndo para apanhar o americano, não faz, aparentemente, sentido. Além disso, o fatalismo muçulmano inclui não ter contrariedades, o que torna incoerente o facto de Carlos lamentar o esquecimento do “paiozinho”. Estas incoerências refletem o próprio percurso incoerente de Carlos.
A ideologia do trágico no Passeio Final
— O pessimismo existencial das palavras de Carlos constitui a mais radical negação do Naturalismo determinista e positivista.
— Este diálogo final desempenha a função de um epílogo ideológico que abarca o nível da intriga e o da crónica de costumes: desiludidos por uma existência marcada pela tragédia e pelo falhanço social, resta a Carlos e Ega a opção do fatalismo, que é , ao mesmo tempo, a descrença nas suas próprias possibilidades.
— No entanto, esta atitude de desprendimento contém ela própria uma faceta trágica: a impossibilidade de assumir coerentemente esta teoria de vida, uma vez que os ideais resultam em desilusão e poeira.
— Na verdade, bastou a lembrança de um “paiozinho com ervilhas” para eliminar a atitude de desprendimento e reavivar a vitalidade humana numa corrida ofegante.
A visão pessimista do Portugal da Regeneração
— No episódio do Passeio Final, Eça destaca a decrepitude e o aspeto lúgubre das pessoas, motivadas por valores que não acompanharam a evolução dos tempos.
— Em Lisboa as pessoas traduziam a decadência do país, caracterizando-se fundamentalmente pela ociosidade crónica que as levava a vagabundear, numa moleza doentia.
— Eça pretendia dissecar o período da