Os Interessantes
Estou longe de ser uma pessoa interessante. Ser uma pessoa interessante, hoje em dia, dá muito trabalho. Porque você só é interessante para a maioria, quando partilha dos mesmos gostos da maioria. Só será interessante para quem tem Instagram, se você também tiver um Instagram. Só será interessante para quem gosta de balada, se você também gostar de balada. Só será interessante para quem anda bem arrumado, se você também andar bem arrumado. Só será interessante para um religioso, se acreditar em Deus. E no mesmo Deus dele, senão não vale. E numa época em que a troca de ideias e de conhecimentos está em baixa, o que não é interessante acaba sendo desacatado, ignorado, posto de lado. As diferenças não mais se compensam, mas se segregam em grupos de gostos e trejeitos, opiniões e defeitos. E o resto é resto. É desinteressante. Aliás, até aqui, tudo bem. É normal da parte do ser humano agrupar-se em grupo de comuns aos seus, os chamados amigos, que se não fossem pelas semelhanças não seriam amigos. Ter sua tribo, seu grupo, sua gangue. É bonito, é bom, e é preciso, porque sempre se precisa dos amigos. Mas estou me referindo, de fato, àquele processo pré-amizade, aquela preocupação que as pessoas têm de serem interessantes para todos a todo momento, e não só para os que compõe o seu círculo. É trabalhoso pra cacete! Muitas vezes, para tornarem-se interessantes ao mundo, as pessoas se moldam ao interesse do mundo: Forçam aquele selfie horrível, aquele porre mal tomado, aquela roupa que não combina, aquela opinião que não é própria, aquela academia exaustiva e tortuosa, aquele sorriso que disfarça um mal estar. Forçam os cartões de crédito para acompanharem os apetrechos, celulares, tênis, ingressos, tanques de gasolina e corridas de táxi para irem e voltarem dos lugares interessantes, cheios de pessoas interessantes. É por isso que eu digo: Ser interessante é muito difícil! Não estou dizendo que é certo, ou errado, mas a