Organização espacio temporal abadia cisterciense
Alcobaça como Modelo de Análise
Virgolino Ferreira Jorge
Universidade de Évora
A caracterização do habitat cisterciense medieval, num sistema arquitectónico completo e harmonioso, de grande unidade orgânica e equilíbrio formal, obedece a um programa singular. Foi pensado para acolher e responder, adequadamente, às exigências espaciais e funcionais de comunidades monásticas rústicas e isoladas, de vida sedentária e auto-sustentáveis. Antes de descrever a “paisagem” ergonomizada do mosteiro e de analisar as funções e as actividades que ali se exerciam, é conveniente tecer algumas considerações, genéricas e preliminares, em especial quanto ao sítio de implantação, ao "regulamento" de construção, à jornada cisterciense e à zonalização do edifício. Estas notas retrospectivas facilitam a sua legibilidade funcional e decifração arquitectónica coerentes e contribuem para o entendimento reconhecido dos valores naturais e culturais, da dimensão patrimonial e do sentido histórico que lhe estão implícitos.
Caracterização do sítio ( Como se sabe, em Arquitectura, está primeiro o significado do sítio e não o do objecto em estudo, pelas suas interferências qualificativas e indissociáveis ao nível do desenho e dos requisitos da construção. Isto é, o sítio determina o processo de concepção e o carácter essencial da obra e exprime o modo coaptado de pensar a arquitectura; logo, uma arquitectura estreitamente mimetizada com a paisagem local. A escolha do genius loci cisterciense radica na observância fiel da legislação e do cenobitismo beneditinos (rectissima via sancte regule), como reforma de vida religiosa[1]. O regresso aos princípios simples e austeros da Regra Beneditina (atribuível ao 1º terço do séc. VI)[2] demanda espaços naturais e recônditos, boscarejos e com potencialidades hídricas, propícios à experiência mística e ao trabalho manual. Esta tríade constituiu uma preocupação