Oraculos
Martin Holbraad
Aqui na Europa, quando digo às pessoas que fui para Havana trabalhar sobre certos cultos, cujos praticantes pensam que os oráculos dizem a verdade sobre as coisas, vejo-me quase invariavelmente intimado a responder acerca de mim mesmo: “e você? você acha que os oráculos funcionam?” Eu ao mesmo tempo adoro e detesto esta pergunta. Uma das razões por que gosto tanto dela, sobretudo quando é feita por, digamos, um químico de minha universidade, é que, em sua mistura de indiscrição e descrença, ela não me deixa esquecer que a antropologia tem mesmo algo a dizer — até para os químicos. Por um momento, eu, metonímia de meu próprio objeto de estudo, torno-me tão fascinante para meu amigo químico quanto esse objeto o é para mim, o antropólogo. E, enquanto antropólogo, estou em boa e venerável companhia, já que não é absurdo dizer que, quando Frazer e Tylor deram o pontapé inicial de nosso jogo disciplinar, explicando por que os selvagens podiam ser crédulos a ponto de pensar que coisas como os oráculos funcionavam, eles estavam respondendo ao mesmo tipo de inquietude da psique vitoriana que se espera que eu, agora, responda, ao falar com meu químico colega. É claro que os químicos de hoje nem piscam quando ouvem dizer que, no Caribe, as pessoas acreditam em oráculos — e por essa duvidosa serenidade eles bem poderiam agradecer aos antropólogos. Mas a persistência da questão (“sim, mas você acredita em oráculos?”) mostra que os motivos da inquietação ainda estão lá.
Eu certamente gostaria ainda mais da pergunta se pudesse responder a ela emprestando ao meu interlocutor um livro, não de Frazer ou Tylor, mas de algum dos muitos antropólogos contemporâneos que, ao cabo de análises rigorosas, tivessem conseguido transformar crenças estranhas em algo menos perturbador. Acontece que não posso; os antropólogos, penso eu, ainda não foram capazes de produzir uma análise realmente