Olhos Azuis
O filme acompanha, especificamente, um desses workshops, realizado em Kansas City com 30 pessoas, entre professores, policiais e assistentes sociais.
Durante duas horas e meia esses indivíduos são submetidos a um estranho experimento: os que têm olhos azuis são separados dos restantes e bombardeados por um tratamento discriminatório e ofensivo semelhante ao que os negros e outras etnias oprimidas sofrem cotidianamente nos EUA.
Durante a sessão, portanto, o que ocorre é uma espécie de encenação condensada do racismo, em que este aparece ao mesmo tempo intensificado e virado de cabeça para baixo.
Os homens e mulheres de olhos escuros (sejam eles brancos, negros, orientais ou mestiços) são orientados a participar ativamente do tratamento de choque infligido aos branquelos, o que inclui testes pseudocientíficos de QI destinados a`provar'' sua inferioridade.
Há um mérito inegável nesse tipo de laboratório, que é o de trazer à tona de modo implacável todas as formas de discriminação presentes no dia-a-dia, mesmo as mais sutis.
Mas há outros aspectos mais discutíveis no experimento. Sua comandante (este é o termo), Jane Elliott, parece conduzi-lo com indisfarçável sentimento de vingança -e o que ela enseja aos participantes é uma espécie de catarse.
Os ``olhos azuis'' choram, confessam, sentem-se purgados da culpa de ser racistas; os negros e outras minorias sentem-se vingados por um breve momento.
Mais preocupante ainda é ver -em imagens antigas que o documentário recupera- o mesmo tipo de experiência ser imposta a crianças de sete ou oito anos, com pretextos educativos.
De todo modo, o documentário aposta no caráter positivo do trabalho de Elliott (que desenvolve esse tipo de workshop desde 1968), ao mostrar antigos alunos seus que hoje se apresentam como indivíduos sensíveis aos problemas do racismo e da discriminação.