Oceano de Saudades
A hora do jantar era, na certa, de convívio intenso e conversa animada entre os diversos elementos que compunham a família Braga Matias: a Mãe Jorgina, o Pai Carlos e três filhas, nascidas com uma diferença de dois anos. Em tempo de aulas, uma pergunta impunha-se às meninas, todas elas em idade escolar:
- O que aprenderam hoje na escola? - perguntava o Pai Carlos todos os dias.
- Estudei os verbos. Eu vou, tu vais, ele vai - respondeu a filha mais velha, chamada Luísa.
- Muito bem. Estudaram a conjugação dos verbos irregulares - explicou a Mãe Jorgina que era professora há muitos anos. - O verbo “ir” é irregular. Nada fácil, mas ao que parece já o sabes de cor.
- Sim. Gosto de gramática. Não acho nada difícil.
- Olha que bom - elogiou o Pai Carlos. – E tu, Margarida, explica ao pai e à mãe o que fizeste hoje na escola.
- Eu estudei ciências, o revestimento dos animais - avançou a Margarida.
- Hum, parece-me bem interessante. Então, fala um pouco do que aprendeste - pediu o pai
- Nós temos pele, mas há animais com escamas, pelo muito grande, penas....
- Estudei a tabuada dos dois - apressou-se a informar a mais nova, a Clara, interrompendo a irmã.
- E já sabes a tabuada dos dois? Vamos lá ver... Duas vezes um
- Dois
- Duas vezes dois?
- Quatro
E lá iam por ali fora revendo tabuadas, falando dos textos estudados e dos conteúdos aprendidos. Todos os assuntos eram bem vindos e todas as aprendizagens valorizadas, pois o objetivo final era conduzir as filhas até à Universidade.
Nem sempre a conversa acontecia de forma tão amena. Havia dias em que uma não gostava da comida, outra não conseguia lembrar-se de uma única coisa aprendida ou feita na escola, e ainda outra que aproveitava as refeições para pedir uma roupa nova ou insistir que queria ir a casa de uma amiga. Enfim, nunca se sabia ao certo como as refeições poderiam acabar.
Num certa noite, em que tudo parecia bem, a conversa, de forma inesperada, seguiu um rumo