Obras Parnasianistas
Be/la e /trai/do/ra! /Bei/jas/ e as/sas/si/nas...
Quem te vê não tem forças que te oponha
Ama-te, e dorme no teu seio, e sonha,
E, quando acorda, acorda feito em ruínas...
Seduzes, e convidas, e fascinas,
Como o abismo que, pérfido, a medonha
Face apresenta flórida e risonha,
Tapetada de rosas e boninas.
O viajor, vendo as flores, fatigado
Foge o sol, e, deixando a estrada poenta,
Avança incauto... Súbito, esbroado,
Falta-lhe o solo aos seus pés: recua e corre,
Vacila e grita, luta e se ensanguenta,
E rola, e tomba, e se espedaça, e morre...
O autor faz uma comparação entre beleza e traição que é a base para a construção do poema “Abyssus”, abismo, em latim. O soneto é todo elaborado a partir de uma comparação que, citada no título, é apresentada na segunda estrofe.
A mulher, descrita no primeiro verso por meio de características incompatíveis (“bela e traidora”) e que promete o amor ao amante, é comparada ao abismo, que representa, de açodo com obra, seu poder de destruição. O homem sem forças para evitar o envolvimento emocional, entrega-se e quando ele se percebe que está numa armadilha já se encontra totalmente destruído.
A força da traição feminina é representada pela maneira como o viajante é seduzido pela aparência “florida e risonha” da face, pela delicadeza das “rosas e das boninas”. Quando ele se aproxima do abismo, porém, não percebe a fragilidade do solo, que se desfaz debaixo de seus pés, levando-a a morte.
O poema sugere que a mulher e abismo têm o mesmo poder: depois de seduzir os homens, que lutam para se libertar, arrastam todos para a destruição.
A última estrofe, constituída essencialmente de verbos, apresenta a dramática luta do homem, vítima da sedução feminina, contra a sua morte certeira. Ainda utilizando-se da metáfora do abismo, o homem segue em direção à mulher, mas quando percebe estar se perdendo, tenta a todo custo escapar de seus encantos, até que não há mais jeito e acaba-se por se deixar