Noção de ideia em Descartes e Locke
Antes de fazermos a distinção entre a noção de ideia cartesiana e a noção de ideia lockiana é oportuno fazermos algumas observações sobre esse termo. Comumente utilizamos o temo “ideia” restringindo-o à forma compreendida por Descartes e Locke. Contudo, o termo “ideia” é a transliteração de um termo grego que significa “forma”, particularmente forma ontológica. Com o tempo, os debates foram abalando essa antiga concepção platônica e abrindo caminhos para novas concepções.
Exemplo disso é a escolha cartesiana do termo “ideia” para designar um conteúdo do pensamento humano, o que marca a ruptura com a antiga problemática metafísica da ideia platônica, além dos contributos de Locke.
Descartes dá o nome de “ideias” propriamente às imagens das coisas e as distingue em três tipos de ideias. São elas as inatas, as adventícias e as fictícias. As ideias inatas são aquelas que encontramos em nós mesmos, nascidas conosco, inerentes à nossa consciência. Das ideias inatas, a que mais se destaca é a ideia de Deus, pois sendo a mais evidente é também a que contem em si mais realidade objetiva que todas as demais ideias inatas. As ideias adventícias são vindas de fora e nos chegam através dos sentidos. Já as ideias factícias, são construídas por nós mesmos, provenientes de nossa própria imaginação.
Locke, reportando-se a Descartes, emprega o termo “ideia” para designar todo o objeto da mente humana, tudo o que pode ser entendido como imagem, noção ou tudo aquilo em que for empregado o pensar. Contudo, Locke nega qualquer forma de inatismo e busca demonstrar de forma sistemática que as ideias são frutos, única e exclusivamente, da experiência. Para ele, o saber humano é determinado pelas impressões vindas da sensação e não de um fundamento inteligível inato. A critica de Locke não se destina apenas aos cartesianos mas também a todos os que sustentam a presença de conteúdos na mente humana anteriores à