Notas Sobre o Diagnóstico Diferencial no Autismo e na Psicose na Infância
ISSN 0103-6564 versão impressa
Psicol. USP v.11 n.1 São Paulo 2000
KUPFER, M. CRISTINA M.
NOTAS SOBRE O DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DA PSICOSE E DO AUTISMO NA INFÂNCIA
M. Cristina M. Kupfer1
Instituto de Psicologia – USP
O artigo aborda a discussão em torno do diagnóstico diferencial da psicose e do autismo infantis, mostrando a falta de concordância entre os autores psicanalistas. Busca, em seguida, delinear um diagnóstico diferencial a partir da proposição de que no autismo falha a função materna e na psicose infantil falha a função paterna.
Descritores: Diagnóstico. Crianças autístas. Psicose infantil. Relações mãe-criança. Relações pai criança. Psicanálise. Linguagem.
Um dos principais entraves ao avanço dos estudos sobre a psicose infantil e o autismo está na disputa diagnóstica. A falta de concordância entre profissionais impede, logo de saída, qualquer estudo epidemiológico, e dificulta enormemente as trocas científicas, já que os pesquisadores não estão falando do mesmo objeto de pesquisa - o autista do neurologista não é o autista do psicanalista.
Tampouco entre os psicanalistas há um consenso. Sob a rubrica "psicose e autismo infantil," que designa o diagnóstico dos transtornos graves dentro do referencial psicanalítico, encontram-se estudos de autores como Klein (1921-1945/1970, 1932) e Tustin (1984). Na esteira do pensamento de Jacques Lacan, situam-se Mannoni (1977, 1979, 1987), Dolto (1972, 1985), Rosine e Robert Lefort (1984). No entanto, tal profusão ainda não é suficiente para que se tenha uma definição precisa das diferentes manifestações dessas patologias. Mais do que isso, não há um consenso sobre o que sejam verdadeiramente uma psicose infantil ou um autismo infantil, e tampouco sobre a sua etiologia.
Na tentativa de produzir uma uniformidade diagnóstica, a Associação Americana de Psiquiatria passou, desde 1994, a colocar dentro de uma mesma categoria as crianças que eram anteriormente