No teu deserto - Miguel Sousa Tavares
Lembrou-se como tinha sido importante aquele tempo dos seus 36 anos, o ano em que se sentiu mais novo, mais novo até que aos 18. Era indiferente à ideia de morte, quase imortal. Ela, 21 anos, bonita, magra, muito alta, cabelos loiros e olhos azuis, ar frágil, mulher sensual e criança desprotegida, mas mais importante que tudo, generosa, aventureira, inconstante, doce de alma e de voz.
Foi por acaso que Cláudia foi, porque sobrava um lugar vazio no jipe dele e ela era amiga de uma amiga dele … foi por acaso a companheira de viagem. No entanto, a viagem teria sido impossível sem ela, não teria sentido. A ida dela revelou-se fundamental.
A primeira vez que a viu foi numa garagem de Alvalade, em Lisboa, onde ela estava a embalar as provisões para a viagem, que mais tarde seriam acondicionadas no jipe em que iam viajar: um UMM, motor Peugeot e carroçaria portuguesa que nunca o deixou ficar mal durante toda a travessia do deserto. Serviu não só como meio de transporte, mas também como abrigo contra as violentas tempestades de areia, como dispensa para os cozinhados no final do dia, como confidente dos escassos diálogos que tinham durante as longas etapas da viagem.
O inicio da viagem foi em Lisboa, junto à Torre de Belém. O grupo era composto por dezasseis jipes e quatro motas. Na falta de telemóveis e GPS todos os participantes, aventureiros, se tinham que orientar