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Há um longo caminho a ser percorrido em direção a um conhecimento mais amplo das línguas indígenas no Brasil. São cerca de 150 línguas distintas, das quais muito poucas foram objeto de estudos amplos e aprofundados.
Apenas 15 línguas têm uma descrição ou documentação satisfatória (uma gramática descritiva, dicionário, coletâneas de textos);
114 foram objeto de estudos parciais, de algum tipo de descrição de aspectos da fonológica e/ou da sintaxe;
35 línguas, pelo menos, permanecem amplamente ignoradas.
Diante do preocupante quadro de ameaça à sobrevivência dessas línguas, os lingüistas nelas especializados têm um importante papel a desempenhar, inclusive quando atuam como assessores de projetos de educação escolar.
A seguir Bruna Franchetto (antropóloga e lingüista do Museu Nacional/ UFRJ) escreve sobre o assunto.
Introdução
Números e porcentagens podem falar de modo mais contundente mesmo quando se trata de línguas indígenas no Brasil, um país, ainda, multilíngüe.
No contexto sul-americano, o Brasil é o país com a maior diversidade e densidade lingüísticas e, também, com uma das mais baixas concentrações de falantes por língua (200/250 falantes). Como previsível, a maioria dessas línguas está na região amazônica.
Não há coincidência entre número de etnias e número de línguas, já que há vários povos indígenas que já não falam mais as suas línguas nativas, sobretudo se considerarmos aqueles que sofreram o primeiro e mais violento impacto da conquista e da colonização. Este impacto, no que concerne a precária sobrevivência das línguas nativas, ainda está presente e atuante, apesar do crescimento demográfico. Menciona-se com freqüência a existência atual de cerca de 180 línguas, em graus variados de vitalidade ou de enfraquecimento. No levantamento mais recente, realizado por Moore (2008), o cálculo é de 150 línguas, considerando distinções entre línguas versus distinções entre variantes dialetais de uma mesma língua,