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Joaquim Felício e seu tempo
Num período em que a historiografia ainda não valorizava a história das mulheres, e estas eram apenas incorporadas a história dos homens, é questionável o que motivou o advogado Joaquim Felício, que pertencia a classe alta da sociedade, mencionar uma mulher, negra e ex-escrava em seu livro Memórias do distrito Diamantino.
Para analisar os escritos de Joaquim Felício dos Santos é preciso considerar a relação de gênero, a posição social além da diferença étnica que envolvia o autor e a personagem histórica Chica da Silva. A historiadora Joan Scott afirma que para utilizar gênero como analise
Os(as) historiadores(as) devem, preferivelmente, examinar as maneiras como as identidades de gênero são realmente construídas e relacionar seus achados com toda uma série de atividades, organizações sociais e representações culturais historicamente situadas. (SCOTT, 1996, p. 11).

No século XIX a estrutura da família patriarcal, onde tudo contribuía pra justificar a autoridade do pai começou a mudar. Até o começo do século, os direitos e deveres dos cônjuges refletiam a diferença entre eles. De acordo com Michelle Perrot (2009, p. 107), o código civil da época estabelecia “a superioridade absoluta do marido no lar e do pai na família, e a incapacidade da mulher e da mãe”.
A mulher casada não era considerada individuo da sociedade e sim um objeto do marido, ao qual devia obediência. O discurso que imperava no período é que as mulheres deveriam se limitar as tarefas domésticas, tendo participação somente na vida primava; já ao homem cabia o papel de provedor da família, e as participações da vida publica.
Quando Santos aborda o relacionamento de Chica com o Contratador de diamantes, João Fernandes, o autor enfatiza que a negra se destacava na relação conjugal, e afirma que
Foi celebre esta mulher, única pessoa ante quem curvava-se o orgulhoso contratador; sua vontade era cegamente obedecida, seus mais leves ou frívolos caprichos prontamente