Narrativas orais: memórias e experi~encia de vida de velhos na casa do pão de santo antônio
Foi ouvindo as histórias da minha avó materna que emergiu meu interesse em experimentar as narrativas de outros indivíduos. As conversas nostálgicas da matriarca da minha família, sua sensibilidade e veracidade ao transmitir em seus relatos vividos, fomentaram uma necessidade de saber mais a respeito da memória e história dos meus ancestrais.
No decorrer dos anos, dentro da academia, no curso de Letras, fui descobrindo as várias vertentes da Literatura, entre elas a oral, e a forma preconceituosa advinda de alguns estudiosos do círculo lingüístico literário de denominá-la. Logo, percebi que existem divergências no que diz respeito a existência ou não da literatura ligada à tradição oral. Meu horizonte de perspectivas é poder coletar relatos orais, em uma casa de repouso e ouvi-los, a fim de relatar suas experiências e memórias durante sua vida.
Segundo José Guilherme Fernandes1, a literatura oral, na sua essência, preside uma força expressiva - poética de grande significância, pois lida com o fantástico, o maravilhoso e o imaginário, e pode estar presente tanto na memória individual como no coletivo imaginário das pessoas.Trabalhos realizados, afirmam que a literatura de tradição oral ou popular possui suas peculiaridades, e seu objetivo está baseado em princípios éticos, no qual o indivíduo tende a respeitar a cultura do próximo, por mais estranheza que possa lhe causar.
Por conta da possibilidade de estar próximo de contadores de histórias orais, tentarei buscar subsídios para contribuir com os estudos já existentes sobre as narrativas; de forma que as histórias oralizadas sejam valorizadas e reconhecidas, uma vez que são avalizadas por historiadores e pesquisadores de renome do folclore brasileiro, porém estão à margem do conceito criado pelos cânones literários, pois seus estudos são vistos de forma preconceituosa, em virtude de algumas literaturas e lingüistas afirmarem serem insuficientes para tal reconhecimento.