NARRADORES DE JAVÉ: vivência, linguagem e verdade
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NARRADORES DE JAVÉ: vivência, linguagem e verdadeSertão é dentro da gente.
(Guimarães Rosa)
A mágica, produto do cinema, que nos transporta para o filme e para além dele é imediata em “Narradores de Javé”. Isso acontece porque o espectador se identifica com o lugar, com as personagens, até mesmo o espectador que nunca viveu em tal região ou que nunca passou por situações parecidas. O Brasil é quase que todo sertão, mais do que uma sub-região, o sertão é a cultura de um povo, é o próprio povo no que concerne aos sentimentos e emoções. Esse reconhecimento é o primeiro passo e talvez um dos mais importantes para essa viagem acontecer. Viagem essa que se dá por meio de uma cadeia de sentidos que é formada antes, durante e depois do filme, uma colcha de retalhos, um quebra-cabeça. A imagem nos coloca em um lugar, assim como a música, o movimento da câmera, a narrativa e para nos manter situados e acompanhando o jogo, esses elementos avançam e retrocedem. Esse jogo se repete incessantemente, talvez possamos dizer que a repetição é sua base. O assunto é colocado em evidência e depois justificado várias vezes, esse é um dos fatores que constroem a ilusão de verdade para o espectador. Da mesma forma, esse jogo possibilita que tenhamos as noções de tempo e de espaço dentro do filme, o que é abstrato se mostra, é desenhado em nossa frente. Os fragmentos se unem e formam blocos, que mudam de posição formando colunas e esse movimento pode ser considerado infinito, nem o final do filme é limite, pois essas relações continuam sendo formadas e seguem conosco.
A palavra dá existência às coisas. Mais que uma busca pela busca salvação da cidade, o povo de Javé procura se afirmar através da palavra, dar validade a sua sabedoria, ser reconhecido. No desenvolvimento do enredo, as tensões começam a aparecer, servem como plano de fundo, mas também como uma possibilidade de crítica e de reflexão sobre essas dicotomias: riqueza x pobreza, tecnologia x