Narrador
Barrando a passagem.
O bolo de gente na calçada
Espichando o pescoço para assuntar.
Será o que aconteceu????
Aconteceu Alguma Coisa
Carlos Drummond de Andrade Dois guardas à porta, barrando a passagem. O bolo de gente na calçada, espichando pescoço para assuntar. - Vai ver que mataram alguém no edifício. - Com certeza assaltaram o banco, e... - Que banco? Não está vendo que não tem banco nenhum aí? - Já sei. Pegaram lá em cima um grupo de subversivos, e eles estão encurralados, não querem se render. Não saio daqui enquanto os caras não aparecerem.
Cresce a confusão. Tão rápido, que até parece organizada. Todo mundo colabora para que seja total. E fala, fala. - Olha aquela velha desmaiando! - Velha coisa nenhuma, é uma lourinha muito da bacana. E não está desmaiando, está é brigando de unha e dente, alguém apalpou ela ou afanou a bolsa. - Te garanto que houve morte. Um padre abriu caminho e entrou lá dentro, apesar dos guardas. Padre mesmo, desses de batina, sacumé? - Se o cara já morreu, não adianta ele entrar, ora essa. Salvo se ainda está agonizando. E quem garante a você que por estar de batina esse que entrou lá mão é padre de araque? Tem muita falsificação pelaí. - Não estou vendo fumaça.Incêndio não é. - Pode ser nos fundos. Espera até a fumaça aparecer. O último incêndio que eu assisti, na Tijuca, levou horas para combater. - Quem sabe foi uma manicure que se atirou no pátio? Já vi um caso assim. - Por essa e por outras é que só moro em casa, e térrea, sem escada, para não dar grilo. Eu, hem? - É, mas tem muito inconveniente. Nas casas baixas a poluição é servida a domicílio. - Repara aqueles dois entrando na raça. - E na raça foram rechaçados, tá vendo? - Pronto, interditaram o edifício. - Pior. Estão esvaziando o edifício. - Corta essa. Todo mundo tem direito de entrar e direito de sair. E os que trabalham lá em cima, por irão deixar de trabalhar? O que precisam subir para ir ao