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O DELÍRIO DO VERBO:
A AGRAMÁTICA DE MANOEL DE BARROS
Juliene Kely Zanardi (UERJ) julienezanardi@yahoo.com.br 1.
A concepção estilística de Manoel de Barros
A obra poética de Manoel Barros, além de seu imenso valor literário, oferece aos leitores esclarecimentos acerca da concepção artística/ estilística do poeta. São diversos os metapoemas que figuram no vasto legado do artista, apresentando a sua visão sobre o fazer poético. Um dos poemas mais esclarecedores nesse sentido encontra-se em O livro das ignorãças. Trata-se do poema VI de “Mundo Pequeno” (BARROS, 1994,
p. 89).
Neste poema predominantemente narrativo, Manoel de Barros relata a descoberta feita aos 13 anos de idade acerca daquilo que lhe proporcionava prazer nas leituras. De acordo com o poeta, não era a “beleza das frases” que o aprazia, mas sim a sua “doença” (BARROS, 1994, p.
89). Ao final do mesmo poema, Barros (1994, p. 89) cria um neologismo para denominar essa “doença” das frases, que se fará presente ao longo de sua obra: “agramática”. Como aponta o dicionário etimológico de Antônio Geral do Cunha (1997, p. 1), o prefixo a-, de origem grega, é usado nas línguas modernas para formar vocábulos como “apolítico” (“não político”) e “acatólico” (“não católico), expressando, portanto, negação, falta de. Dessa forma, o vocábulo “agramática”, criado por Barros, significa negação da gramática, ou seja, desvio das normas prescritas pela gramática.
No primeiro capítulo de Introdução à estilística, Nilce Sant’anna
Martins (2000, p.1-3) apresenta a variação de definições existentes acerca do conceito de “estilo”. Segundo a autora, tão diversa e numerosa é essa variação que estudiosos como George Mounin e Nils Erik Enkvist empreenderam uma divisão das definições existentes em grupos, classificando-as de acordo com os critérios em que elas se fundamentam. Entre as subdivisões apontadas tanto por Mounin quanto por Enkvist está