N19a06
8074 palavras
33 páginas
A AMÉRICA E O MUNDO DEPOIS DE BUSHA unipolaridade americana
Nuno Peres Monteiro
A
s relações internacionais das últimas duas décadas contêm um paradoxo central.
Por um lado, a competição entre grandes potências, comummente aceite como a principal causa de conflito entre estados, foi drasticamente diminuída com o fim da
Guerra Fria em 1989 e a subsequente implosão da União Soviética, que deixaram os eua como potência dominante no sistema internacional. Por outro lado, em onze dos dezanove anos desde que adquiriam este estatuto, os eua estiveram (e continuam a estar) envolvidos em conflitos militares. Terão estes conflitos – Kuwait em 1991, Bósnia em 1995, Kosovo em 1999, Afeganistão desde 2001 e Iraque desde 2003 – sido originados, ou pelo menos possibilitados, pela configuração unipolar do sistema internacional?
Este artigo combina teoria das relações internacionais com observações do mundo em que vivemos para iluminar as raízes deste paradoxo. Para tal, é necessário responder a três questões inter-relacionadas. Primeiro, são os eua uma potência unipolar? A resposta é um sim sem reservas. Segundo, é a unipolaridade americana duradoura? A análise resulta num sim qualificado. Terceiro, é a unipolaridade americana pacífica? Aqui, ao contrário da sabedoria convencional sobre o tema, não há qualquer razão para esperar que o actual sistema unipolar dominado pelos eua seja mais pacífico do que um sistema bipolar ou multipolar. De facto, os conflitos pós-Guerra Fria em que os eua têm estado envolvidos derivam, ao nível das causas profundas, da ausência de outra(s) grande(s) potência(s) capaz(es) de limitar a projecção do poderio americano.
SÃO OS EUA UMA POTÊNCIA UNIPOLAR?
Desde o colapso da União Soviética em 1991, os eua evidenciam uma preponderância de poder no sistema internacional. Nenhum outro país possui um poderio económico e militar comparável ao dos eua. Mais, esta situação é única na história do mundo moderno1. Com apenas 4,5 por cento da população mundial,