Mutações do Trabalho - Vera Telles
As relações de trabalho têm sofrido alterações ao longo dos anos, o trabalhador não tem ideia (conscientemente) do motivo pelo qual está trabalhando, além daqueles que a sociedade prega: contas para pagar, família para sustentar, estudos para melhorar sua posição no mercado de trabalho. A essência de se trabalhar, a paixão, foi perdida há muitos anos e cada vez a sociedade não sabe o que é um automatismo que adquiriu ou o que ela realmente e conscientemente está realizando.
Hoje um bom trabalho baseia-se em alguns fatores: qualificação, horas de serviço e principalmente o respeito a regras que cada vez mais prendem os empregados à empresa. Quanto mais se estuda, melhor o seu cargo; quanto mais se trabalha, teoricamente, melhor o seu desempenho; quanto mais automatizado você é, mais consideração dos seus superiores você tem. O trabalho deixou de ser simplesmente um meio de sustento e passou a ser quase que uma tortura.
Deve-se levar em consideração, sobretudo sobre a qualificação, que as empresas se tornaram cassinos, a ponto de valorizar uma primeira experiência e quando a pedem, ela a recusa. Quantos jovens estão desempregados, nas mais diversas profissões, por que ainda não tiveram um primeiro emprego. Observa-se maior incidência desse fato em jovens que durante seus estudos também tinham que cuidar de uma família, trabalhar em uma área que não a de seu estudo para pagar o mesmo.
Nessa batalha diária pela busca de emprego, os que conseguem se esforçam tanto para não perdê-lo que esquecem do seu tempo de diversão, o tempo que deveria ter para conhecer alguém, viajar, talvez até casar e ter filhos. A população está cada vez mais decrescente por conta das exigências que as empresas fazem, que impede seus funcionários de pensar em outra coisa senão o seu trabalho.
Não só o trabalho foi automatizado, quase todas as nossas ações o são. Veja o consumo, por exemplo, quem disse que uma camisa da Lacoste é melhor do que uma da Riachuello?