MULHER MARAVILHA
Chamo-me Márcia! Na infância, fui uma de v árias filhas dum típico casal sem condições económicas, mas com um pai ausente e polígamo. Morávamos em
Zav ala, na prov íncia de I nhambane, sul de Moçambique, a quilómetros da cidade capital, Maputo. A minha irmã Sara, minha melhor amiga, morav a na capital nos últimos anos. Sempre que faláv amos ao telefone, ela contav a-me coisas marav ilhosas da grande cidade. Eu ficav a seduzida, ansiosa por reencontra-la e v iver cada pedaço da v ida que ela estav a a v iver. Lembro-me duma das v ezes em que tiv emos uma v isita dos nossos familiares que residiam na capital. Foi conheci um primo muito especial. Egídio! Era filho duma das primas da minha mãe! Rapaz quieto, bonito e com uma aura muito secreta. Tornamo-nos logo amigos! Eu, sempre curiosa, procurava motiv os para que conv ersássemos apesar daquela timidez inicial! Egídio, Gidinho, tinha sempre um liv ro na mão. Preso naquela caixa de óculos que carregava no rosto, estava quase sempre focado naquele liv ro, alheio a tudo que se passav a ao seu redor. Após v árias tentativas ele lá me explicou que aquilo era uma banda desenhada, coisa que eu nunca ouv ira em toda a minha v ida, talv ez porque eu não sabia ler. I nsisti para que me lesse uma história, e ele lá aceitou. Disse-me que era um episódio das histórias da
´´Mulher-Maravilha´´! Uma heroína criada por um americano. Não cheguei a perceber grande coisa, mas a sensação de perceber que uma mulher poderia ser um exemplo a seguir, deixou-me completamente extasiada. Obriguei-o a ler-me a história, se não, não o ia deixar em paz. Ele leu-me v árias e eu perdi-me naqueles textos, perdi-me como se estiv esse a ouv ir as minhas futuras façanhas. Quem me dera, quem me dera ser também uma mulher marav ilha, pensav a para mim.
UMA PRIMEIRA VEZ, A OLHOS VISTOS
Eu e o Egídio tínhamos decidido ir até a lagoa de noite! Esperamos que toda a gente adormecesse e como duas crianças inocentes