Moça do brinco de pérolas
904 palavras
4 páginas
O discurso de Griet é caracterizado pela preterição. Ela nega no discurso o que afirma no enunciado por meio de suas ações. Ainda, seu discurso é marcado pela elipse e pelos subentendidos que exigem do leitor uma interação cognitiva em busca da concretude. Dessa forma, o discurso narrativo da protagonista revela a homologia entre poéticas, pois instaura no texto o silêncio que está presente nos quadros de Vermeer. No romance, o sujeito do discurso é então a rede dispersa e descontínua de locais distintos de ação, e não o conhecedor transcendental e controlador. O espaço do discurso da narradora configura-se como o único espaço no qual ela obtém sua liberdade. Nele, a narradora submerge e emerge verticalmente nas suas reminiscências, enquanto horizontalmente recua e avança no tempo, mudando de espaços pelas reflexões configuradas também no papel. Este é, aliás, o único espaço que lhe pertence – o do relato -, mas não exclusivamente, porque também nesse espaço a autora Tracy Chevalier realiza e projeta as ações das personagens, por elas e nelas, suas máscaras. Assim, duas mulheres, autora e personagem, encontram seus espaços de auto-conhecimento: o do relato.
O discurso da narradora enfraquece os pressupostos ideológicos que estão por trás daquilo que tem sido aceito como universal e trans-histórico em nossa cultura: a noção humanista do Homem como um sujeito coerente e contínuo. Ainda, problematiza o conceito de pintor como um gênio criador, senhor absoluto de sua criação, livre no ato de criar, despreocupado de questões banais e de ordem financeira. Também, o discurso de Griet problematiza o conceito de narrador como personagem coerente e organizador do enredo e controlador absoluto de todos os eventos. Essa personagem, em sua enunciação e performances, revela-se na trama como confusa e angustiada, em conflito com o que acredita, com aquilo que as pessoas ao seu redor pensam, com as suas origens, desejando ser a traidora de sua família e de suas crenças ao ser