Mozambique e o Transvaal
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O Modus Vivendi entre Moçambique e o Transvaal (1901-1909)
Um Caso de “Imperialismo Ferroviário”
Felizardo Bouene
Maciel Santos1 pp 239-268
Introdução
A geografia do imperialismo em África é indissociável dos caminhos de ferro. No caso da África do Sul, onde o capital industrial se acumulou com mais intensidade que em qualquer outra região do continente, a oferta ferroviária teve características específicas: tornou-se excedentária relativamente à procura. O desenvolvimento mineiro do Witwatersrand transformou as regiões de Moçambique, do Natal e mesmo do Cabo em pólos de serviços concorrentes e, o que não era menos importante, com bandeiras diferentes.
Os pontos seguintes tentam explicitar alguns momentos do complexo relacionamento que a região do Rand manteve, entre 1901 e
1909, com os fornecedores dos dois “factores” mais importantes para os capitais mineiros: trabalhadores e ferrovias. No ponto 1, tenta-se caracterizar a complementaridade entre a região mineira e o sul de
Moçambique, que se materializou no denominado Modus Vivendi de
1901. No ponto 2, são acompanhadas, através de fontes inglesas e portuguesas, as principais etapas do processo negocial durante os anos de 1905-06. O ponto 3 procura explicitar os pontos fortes em que residiam as contradições e os consensos entre os negociadores britânicos e portugueses.
1 CEAUP
AFRICANA STUDIA, Nº 9, 2006, Edição do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto (CEAUP)
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Felizardo Bouene e Maciel Santos
Para se avaliar da continuidade desta relação complexa mas estrutural, convém recordar que os Modus Vivendi se foram renovando formalmente até, pelo menos, 1964 e, informalmente, até ao final do período colonial português em 1975.
Características estruturais da ligação Sul do Save – Rand
Devido à maior integração da região do Sul do Save na economia monetária (que se iniciou com o comércio do marfim em meados do século XIX), às crises