mito
Há mais de meio século, eruditos ocidentais passaram a estudar o mito por uma perspectiva que contrasta sensivelmente com a do século XIX, por exemplo. Ao invés de tratar, como seus predecessores, o mito na acepção usual do termo, i.e., como “fábula”, “invenção”, “ficção”, eles o aceitaram tal qual era compreendido pelas sociedades arcaicas, onde o mito designa, ao contrário, uma “história verdadeira” e, ademais, extremamente preciosa por seu caráter sagrado, exemplar e significativo.
Em contraposição ao logos; assim como, posteriormente, a história, o mythos acabou por denotar tudo “ o que não pode existir realmente”. O judeu-cristianismo, por sua vez, relegou para o campo da “falsidade” ou “ ilusão” tudo o que não fosse justificado ou validado por um dos dois testamentos.
Todas as grandes religiões mediterrâneas e asiáticas possuem mitologias. Contudo, é preferível não iniciar o estudo do mito tomando como ponto de partida a mitologia grega, egípcia ou indiana. A maioria dos mitos gregos foi recontada e, consequentemente, modificada, articulada e sistematizada por Hesíodo e Homero, pelos rapsodos e mitógrafos. As tradições mitológicas do Oriente próximo e da Índia foram persistentemente reinterpretadas e elaboradas por seus respectivos teólogos e ritualista. Isso não significa, evidentemente, que 1) essas Grandes Mitologias tenham perdido sua “substância mítica” e que não passem de “literatura” ou que 2) as tradições mitológicas das sociedades arcaicas não tenham sido remanipuladas por sacerdotes e bardos. Assim como as Grandes Mitologias que foram finalmente transmitidas através de textos escritos, também as mitologias “primitivas” que os primeiros viajantes, missionários e etnógrafos conheceram na fase “oral”, têm uma “história”. Em outros termos, elas se transformaram e enriqueceram no curso dos séculos, sob a influência de outras culturas superiores ou graças ao gênio criador de alguns indivíduos excepcionalmente bem dotados.
O mito é uma