Mito da caverna
JORGE GRESPAN especial para a Folha de S.Paulo
Anualmente, a concessão do Prêmio Nobel chama a atenção do público para realizações alcançadas em várias áreas da ciência. Mas o interesse inicial logo é arrefecido pela dificuldade em compreender conceitos e métodos geralmente muito distantes da linguagem cotidiana, embora se trate, no caso da economia, principalmente, de temas cada vez mais presentes na vida das pessoas.
Neste ano, os pesquisadores Vernon L. Smith e Daniel Kahneman foram premiados com o Nobel de Economia por seu trabalhos numa área limítrofe entre a psicologia e a ciência econômica, tentando mostrar e provar que há um elemento irracional que age na tomada de decisões dos agentes de mercado —e que pode ser explicado dentro de uma estrutura matemática complexa estudada pela teoria dos jogos.
Trata-se de uma inovação, segundo a Academia de Ciências da Suécia, pois rompe com o pressuposto de racionalidade do "homo economicus", ao introduzir nas suas escolhas e avaliações um fator emocional de risco, adequado à situação de incerteza e de crise em que estamos vivendo.
É um assunto difícil, mas o entendimento será menos árduo, se forem desfeitas, desde logo, algumas aparências.
Em primeiro lugar, o refinamento conceitual atingido em certas áreas da investigação em economia não implica, de modo nenhum, que haja consenso a respeito dos seus pontos de partida teóricos. Ao contrário. Um indispensável olhar para a história do pensamento econômico deixa bem claro existirem diversas escolas, com visões do objeto e métodos muitas vezes conflitantes.
Deve-se retomar essa história porque, em segundo lugar, tais perspectivas se despem dessa complexidade e podem ser apreendidas pelas suas opções teóricas, valorativas e, inclusive, políticas, mais acessíveis ao cidadão comum.
Em terceiro lugar, por fim, o olhar histórico permite julgar até que ponto há realmente novidade em pesquisas específicas ou se elas são