militarismo
"Militarismo" é daqueles termos insuscetíveis de definir por meio de um enunciado preciso ou de conceituar de modo a abarcar as suas diferentes nuanças. Inobstante a dificuldade, é comum considerar-se militarismo como uma ideologia segundo a qual a expressão militar do poder de um Estado tem primazia na formulação e condução das políticas públicas, do que resulta a preponderância dos militares em relação aos civis ou a sua forte influência na tomada de decisões. Cumpre observar, no entanto, que ao significante "militarismo" corresponde um amplo feixe de significados, dependendo do contexto social em que o mesmo é empregado e da perspectiva de quem o emprega. Assim, poderá ser praticado enquanto é negado ou mascarado sob o manto do nacionalismo. Ou ser apresentado como um imperativo da busca da paz e, paradoxalmente, de defesa da democracia.
Ajudará na melhor compreensão do conceito, no entanto, levar em conta que a palavra militarismo (de militar ismo) tem o seu campo semântico ligado ao substantivo latino miles, -itis (soldado, soldados); ao adjetivo militaris, -e (de soldado, militar, da guerra, guerreiro), ao verbo milito, -are (ser soldado, fazer o serviço militar, combater), e ao substantivo militia, -ae (serviço militar, campanha, expedição, tropas, milícia). O cerne da questão, portanto, reside na diferenciação entre os sentidos de "militar" e "militarismo", ou seja, entre os peculiares modos de ser e agir de um indivíduo ou grupo, como explica Castro (2004) ao aludir à distinção entre o que se costumou chamar de "espírito militar", inerente aos valores cultuados pelos integrantes do estamento castrense - a ética, a disciplina, a integridade moral -, e "militarismo", visto como a ausência desses valores ou a deturpação dos mesmos. Ou, como afirma Boer (1980) em Militarismo e clericalismo em mudança, trata-se do desrespeito, pelos militares, dos limites de sua função. Restará saber, porém, em que ponto exatamente se situariam esses limites.