Mil faces de um mesmo homem
Nome: Lilian Araujo Cardozo
Poucas vezes fui eu mesmo, poucas vezes tive certeza disso. Tudo para mim era real. Eu não sabia como as pessoas podiam viver assim... do jeito delas, sendo elas mesmas, tendo certeza de quem eram e o que queriam fazer de suas vidas. Eu nunca tive algo que realmente pudesse chamar de meu, nem os meus próprios pensamentos, nem a minha própria vida. Meus pais eram estranhos, acho que demorei em aceitar isso. O que todos percebiam era o que eu fingia não ver, simplesmente ignorava. Nossa família era um circo de aberrações, e eu era o mais estranho de todos. Meus irmãos eram tão relevantes quanto um peso de papel, ali parados, inertes, prontos para serem manipulados. A competência de meus pais em nos ignorar, só era superada pela rotina de suas brigas, isso atormentou meus ouvidos e minha mente, apesar da rotina das discussões, eu nunca me acostumara. Eu observava como as pessoas falavam e comportavam-se, não entendia como elas viviam suas vidas sem se preocuparem com sua identidade, com sua verdadeira razão de existir. Todos estavam bem, seguros de si, cientes de seus papéis na pintura da vida humana. Eu só conseguia me afundar mais e mais em minhas dúvidas, em minhas lamentações. Estava perdido e sozinho. O mundo se despedaçava em guerras e em mentiras. Os jornais só diziam o que era conveniente. O que precisava ser dito, na verdade, nunca era. Muitos morriam, outros tantos passavam fome e todos eram descriminados. Para os governos essas pessoas eram apenas números, assim como eu, elas eram invisíveis aos olhos do mundo. Tive que me adaptar. Não sei ao certo como consegui fazer o que estou prestes a contar, mas desenvolvi uma forma de mudar, de ser quem eu quisesse, de me integrar com o mundo, com as pessoas, não só psicologicamente, mas também fisicamente. meu corpo adquiriu vontade própria, ele adquiria as características