Miguel Torga
Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?
Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura, que não tem coração dentro do peito.
Chamo aos gritos por ti - não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto - sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.
Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!
Emigrou para o Brasil em 1920 , ainda com 13 anos, para trabalhar na fazenda do tio. Mais tarde, para recompensar 5 anos de serviço o tio propôs-se a pagar os seus estudos, o que o fez regressar a Portugal.
Verdadeiro nome: Adolfo Correia da Rocha
Nasceu a 12 de Agosto de 1907 em Vila Real e morreu a 17 de Janeiro de 1995 em Coimbra.
Primeiros anos e educação[editar | editar código-fonte]
Nasceu na localidade de São Martinho de Anta, em Vila Real a 12 de Agosto de 1907.2 3 4 Oriundo de uma família humilde de Sabrosa, era filho de Francisco Correia Rocha e Maria da Conceição Barros.
Em 1917, aos dez anos, foi para uma casa apalaçada do Porto, habitada por parentes. Fardado de branco, servia de porteiro, moço de recados, regava o jardim, limpava o pó, polia os metais da escadaria nobre e atendia campainhas. Foi despedido um ano depois, devido à constante insubmissão. Em 1918 foi mandado para o seminário de Lamego, onde viveu um dos anos cruciais da sua vida. Estudou Português,