Michely
Marco Aurélio Maia Barbosa de Oliveira Filho 1
Durante muito tempo, a atividade de coleta do látex da seringueira2 com o intuito de transformá-lo em borracha foi realizada somente por algumas comunidades indígenas. No ano de
1736, a borracha foi anunciada pelo pesquisador francês La Condamine, que descreveu seu uso por nativos do rio Solimões. Seu valor comercial, entretanto, veio a adquirir importância somente em
1839, ano em que Charles Goodyear descobriu o processo de vulcanização da borracha, processo este que conferiu maior durabilidade e resistência ao material. Deste modo, a borracha passou a ser absorvida pela indústria no decorrer da denominada Segunda Revolução Industrial, sobretudo pela indústria automobilística, que a popularizou no início do século XX.
Os primeiros seringueiros, aqueles trabalhadores que retiram o látex da seringueira, chegaram à Amazônia na década de 1870. Oriundos do Nordeste, milhares de indivíduos escaparam da seca em direção à Amazônia, terra considerada superabundante e inabitada. Quando chegaram, no entanto, se depararam com diversos povos indígenas que viviam de forma harmoniosa com a natureza, e entraram em confronto para poderem se estabelecer nos seringais. Além disso, estes retirantes envolveram-se num regime de intensa exploração do trabalho, realizada pelo seringalista
(o senhor dos seringais), que os escravizava inserindo-os num círculo vicioso de dívidas. Deste modo, o sonho de voltar com uma boa quantia de dinheiro à terra natal se tornava uma utopia inatingível. Um seringal é formado por várias colocações, e cada uma destas, por sua vez, são compostas por uma humilde casa construída numa pequena clareira com produtos da floresta e adaptada à vida amazônica, e pelas estradas de seringa – trilhas que passam entre as cerca de 150 seringueiras de cada colocação. O seringal ainda