Metodologia
Osvaldo Pessoa Jr. Depto. Filosofia, FFLCH, Universidade de São Paulo, opessoa@usp.br
* A sair nos Cadernos de História da Ciência do Instituto Butantan, 2007.
1. Introdução A causa da extinção do dodô (Fig. 1) – ave não voadora pesando até 25 kg, que habitava a ilha Maurício – que ocorreu no séc. XVIII, foi o fato de todos os espécimes terem sido comidos por marinheiros europeus que ali aportavam. Tal episódio envolveu dois eventos, uma causa (comilança dos dodôs pelos marinheiros) e um efeito (extinção dos dodôs), e é perfeitamente compreensível para nós. No entanto, há casos em que a atribuição de causalidade se torna mais problemática. Este artigo pretende examinar alguns aspectos gerais da noção de “causalidade” ou “causação”1, apresentando diferentes teorias ou interpretações da causalidade, tendo em vista fornecer instrumentos para analisar os casos menos claros de causação.
Figura 1: Dodô.2
Os termos “causalidade” e “causação” serão usados de modo intercambiável. Poder-se-ia distingui-los da seguinte forma: “causalidade” se referiria aos princípios envolvidos na relação entre causa e efeito, ao passo que “causação” se referiria à relação propriamente dita. Em português, o termo “causalidade” tem sido mais usado tradicionalmente em filosofia (em ambas as acepções indicadas), mas o uso do termo causation na contemporânea metafísica de língua inglesa tem levado ao uso freqüente de “causação”. Esta figura do dodô, Raphus cucullatus, foi obtida do sítio http://www.davidreilly.com/dodo/, e é uma cópia do original que aparece em A German Menagerie Being a Folio Collection of 1100 Illustrations of Mammals and Birds, Edouard Poppig, 1841.
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2. Condição INUS Uma primeira consideração fundamental é a noção de que, em geral, a relação entre uma causa e um efeito é a de uma “condição INUS”. Consideremos o exemplo da extinção do dodô. Será que a comilança dos dodôs pelos marinheiros (C) foi causa necessária para a extinção dos