MESTRE
Ocorre que todos os conflitos vividos pelo padre não apenas o atormentam, individualmente, mas o levam a condenar a jovem Branca Dias. É a tragicidade da personagem. Desde que salva o padre e lhe faz respiração boca-a-boca, a trajetória de Branca é de desventura, chegando à sua morte, na última cena do drama.
Escrito na década de setenta, o drama de Dias Gomes tem uma mensagem de crítica contra a ação violenta da Igreja Católica, com a instituição da chamada Santa Inquisição, de altíssima arbitrariedade. Igualmente arbitrário e violento era o regime militar, vigente na época em que o drama foi escrito.
A ingênua Branca Dias é vítima da arbitrariedade do Tribunal da Inquisição, que agia em nome de uma fé, de um deus, mas sem piedade, sem justiça ou igualdade. O padre Bernardo, salvo pela jovem, transfere a sua culpa pela quebra da castidade, pelo desejo sentido desde o salvamento realizado com o ato de encostar os lábios, da respiração boca-a-boca, para quem o salvou, a própria Branca.
O drama questiona, assim, a questão de gênero, ressaltando o machismo da atitude do padre em transferir a culpa para a mulher desejada, inocente. Não somente no século XVI, período em que acontece a tragédia de Branca Dias, mas até mesmo na atualidade, homens desejam mulheres, ilegitimamente, e as culpam por isso. Atos violentos e arbitrários são cometidos constantemente contra mulheres que sejam objetos do desejo ilícito de homens casados, religiosos etc, mesmo que sejam inocentes ou mesmo vítimas desse desejo.
Branca era