Mendiquês e o aspecto místico

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1 – Introdução

A linguagem médica sempre foi motivo de fascinação e de curiosidade para muitos estudiosos da linguagem, destacando, principalmente, os que se ocupam na investigação da relação da linguagem com a sociedade, os sociolingüistas. Essa relação entre médico e sociedade, tem sido a motivação de vários trabalhos de pesquisa: uns preocupados com a importância da inteligibilidade da linguagem médica, defendendo o ponto de vista, de que a linguagem médica deve ser expressa em palavras simples e objetiva, em próprio vernáculo, um tipo de “puritanismo” lingüístico, eliminando todo tipo de “estrangeirismos” e expressões “extravagantes”, para que a massa popular que é o “sujeito passível” nesta relação, não sofra com a exploração médica. Outros defendem a importância da técnica da linguagem para o avanço da medicina e, ainda, outros se preocupam em elucidar o mero aspecto cômico desta relação, demonstrando o quão engraçado pode se tornar um diálogo entre médico e paciente, motivado pela dificuldade de entendimento do paciente em relação ao “falar” difícil e erudito do médico. Sem dúvidas, o aspecto “ininteligível” e “oculto” da linguagem médica é o que causa o paradoxo de incerteza e de esperança na “psiquê” dos pacientes que entram em contato com esse “linguajar” estranho, que soa aos ouvidos como palavras “mágicas” e “misteriosas”. Como o efeito de uma linguagem rica de terminologias provenientes do grego e do latim provoca um aspecto quase sobrenatural no consciente das pessoas, ao ponto de verem a figura do médico como um ser quase transcendental e dotado de um poder “místico”, capaz de solucionar os seus problemas físicos e psicológicos. Este aspecto “místico” e “ilusório” da linguagem médica, que tanto ilude o paciente, quando este entra em contato com ela na esfera interior de uma clínica médica, como, também, no ato da auto-medicação, ao ler uma bula de medicamentos, ou ainda, no simples ato de ler uma propaganda de incentivo ao consumo de

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